segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Pais e filhos




Eu já falei em postagens anteriores que meu conhecimento de Cora Coralina se deu através de meu pai, que assim como Cora também teve uma infância simples e cheia de lutas. Ele aprendeu a desviar com muito esforço dos obstáculos que a vida lhe reservou para dar a mim e a meus irmãos a educação e as chances que seus pais não puderam lhe dar. Percorrendo todo um Brasil com sonhos e planos na bagagem para seus três filhos. Dessa forma esse blog serve também como uma homenagem, e assim publico esta singela postagem feita por ele.


Conversando com Cora

Eu sou admirador de Cora e acredito que, em momento de angustia ela desabafa na “melodia de seu cântico” quando, por exemplo, em “Minha infância” diz: “Melhor fora não ter nascido”. Mas graças a Deus logo adiante reconhece sua missão divina para o uso das palavras quando assevera: “Quem sentirá a Vida destas páginas...Gerações que hão de vir de gerações que vão nascer”.

Cora! Em seu tempo os livros de geografia ensinavam que o maior rio do mundo, na época em volume d’agua, nascia no grande lago Titicaca, mas o tempo, o senhor da verdade, corrigiu o engano. Agora afirmam os estudiosos que, o Rio Amazonas, nasce como você nasceu: frágil, mas na grande altura de 5.597 metros da montanha Mismi na região peruana de Arequipa na Cordilheira dos Andes.

Não sabia você, Cora, que para viver por tanto tempo entre os seres inteligentes deste planeta Terra, seria necessário nascer frágil, pouco desenvolvida, desprezada e desvalorizada, fruto de um velho desembargador que não conheceu na Terra a força de seus versos, mas certamente na outra vida ti encontrou e externou toda admiração e carinho que tem por você, e quem sabe até esclareceu as razões porque tudo aconteceu assim.

Cora Coralina! Era necessário ser frágil, ter pouco valor no início de uma longa vida, para depois as novas gerações conhecerem o seu trabalho, a sua importância no mundo das letras e sentir que, obstáculo algum conterá a força de um rio de sabedoria, tão forte quanto o Rio Amazonas, pois “não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos”.

Para meu filho Andreisson, com a benção de Deus, uma singela contribuição com todo o meu respeito e admiração pela iniciativa deste trabalho.

Moisés Almeida.





Meu pai

In memorian

Meu pai se foi com sua toga de juiz.

Nem sei quem lha vestiu.

Eu era tão pequena,

mal nascida.


Ninguém me predizia – vida.

Nada lhe dei nas mãos.

Nem um beijo,

uma oração, um triste ai.

Eu era tão pequena!...

E fiquei sempre pequenina na grande

falta que me fez meu pai.

Cora Coralina





Manuscrito da poesia "Meu Pai".


sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Que possam te salvar, deter a tua queda...

-----------------Cadernos, jornais, Bíblia, Grande Sertões Veredas...
--=====-(Documentos que foram salvos da última enchente do Rio Vermelho)

---------Cora Coralina não canta apenas dela mesma. Seus versos mostram sua compaixão com tudo aquilo que é torto ou parece ser, nessa vida. Em 'Menor abandonado' ela demostra sua compaixão com todos os que não possuem voz ou vez:

(...) Pudesse eu te ajudar, criança estigma.
Defender tua causa, cortar tua raiz
chagada...
És o lema sombrio de uma bandeira
que levanto. (...)

---------As palavras 'Defender tua causa', usada pela poetisa, revelam bem a sua preocupação com várias injustiças socias. Mas, uma das quais ela mais levantou a bandeira foi a questão da educação, tanto acadêmica como moral.
---------Suas inquietações com essas pedras sociais, 'E tu - Menor Abandonado, és a pedra, o entulho e o aterro desse fosso.', podem ser observados em algumas partes de seus vários poemas, ora denunciando ora fazendo apelos aos homens e autoridades:

Antiguidades

(...) Criança, no meu tempo de criança,
não valia mesmo nada.
A gente grande de casa
usava e abusava
de pretensos direitos
de educação.

Por dá-cá-aquela-palha,
ralhos e beliscão.
Palmatória e chineladas
não faltavam.
Quando não,
sentada no canto de castigo
fazendo trancinhas,
amarrando abrolhos.
"Tomando propósito".
Expressão muito corrente e pedagógica. (...)

A Escola da Mestra Silvina

(...) Digo mal - sempre havia

distribuídos
alguns bolos de palmatória... (...)
...
(...) Banco dos meninos
Banco das meninas.
Tudo muito sério.
Não se brincava.
Muito respeito.
Leitura alta.
Soletrava-se.
Cobria-se o debuxo.
Dava-se a lição.
Tinha dia certo de argumento
com a palmatória pedagógica
em cena.
Cantava-se em coro a velha tabuada.(...)

O Prato Azul-Pombinho


(...) E o castigo foi comuntado
para outro, bem lembrado, que melhor servisse a todos
de escarmento e de lição:
trazer no pescoço por tempo inderteminado,
amarrado de um cordão,
um caco do prato quebrado.

O dito, melhor feito.
Logo se torceu no fuso
um cordão de novelaõ.
Encerrado foi. Amarrou-se a ele um caco, de bom jeito,
em forma de mei-lua.
E a modo de colar, foi posto em seu lugar,
isto é, no meu pescoço.
Ainda mais
agravada a penalidade:
proibição de chegar na porta da rua.
Era assim, antigamente. (...)


- Nesse poema, Cora denuncia a forma como era castigo uma criança, amarrando um cordão com cacos de porcelana no pescoço da dela.

Becos de Goiás


(...)E aquele menino, lenheiro ele, salvo seja.
Sem infância, sem idade.
Franzinho, maltrapilho,
pequeno para ser homem,
forte para ser criança.
Ser indefeso, indefinido, que só se vê na minha cidade. (...)

O Beco da Escola


(...) Mestra Lili... o seu perfil
Muidinha, magrinha.
Boa sobretudo. Força moral.
Energia concentrada. Espírito forte.
O hábito de ensinar, ralhar, levantar a palmatória,
afeicoara-lhe o conjunto
- enérgico, varonil. (...)


Minh Infância


(...) A rua... a rua!...
(Atração lúdica, anseio vivo da criança,
mundo sugestivo de maravilhosas descobertas)
- proibida às meninas do meu tempo.
Rígidos preconceitos familiares,
normas abusivas de educação
- emparedavam.(...)
...
(...) Na quietude sepulcral da casa,
era proibida, incomodava, a fala alta,
a risada franca, o grito espontâneo,
a turbulência ativa das crianças.

Contenção... motivação... Comportamento estreito,
limitado, estreitando exuberâncias,
pisando sesibilidades. (...)

(...) Intimidada, diminuída. Incompreendida.
Atitudes imposta, falsas, contrafeitas.
Repreensões ferinas, humilhantes.
E o medo de falar...
E a certeza de estar sempre errando...

Aprender a ficar calada.
Menina abobada, ouvindo sem responder.

Daí, no fim da minha vida,
esta cinza que me cobre...
Este desejo obscuro, amargo, anárquico
de me esconder,
mudar o ser, não ser,
sumir, desaparecer
e reaparecer
numa anônima criatura
sem compromisso de classe, de família.

Menor Abandonado

(...) Pudesse eu te ajudar, criança-estigma.
Defender tua causa, cortar tua raiz
chagada...

És o lema sombrio de uma bandeira
que levanto,
pedindo para ti - Menor Abandonado,
Escolas de Artesanato - Mater et Magistra
que possam te salvar, deter a tua queda... (...)


Oração do Pequeno Delinqüente

(...) Meu Deus, acordai o coração dos meus juízes.
Senhor, dai idealismo às autoridades
para que elas criem em cada bairro
pobre de Goiânia
uma Escola conjugada Profissional
e Alfabetização para os meninos pobres,
antes que eles se percam pelo abandono
e por medidas inoperantes e superadas dos que tudo podem. (...)

---------É dessa maneira que a poetisa 'quebra suas pedras e planta flores no caminho', sem que suas retinas fiquem fatigadas.
---------Seria esse o motivo da admiração de Drummond pelas poesias de Cora Coralina?

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A paráfrase da morte


Carlos Drummond e Cora Coralina souberam explorar bem a temática da violência e a injustiça social, Drummond em 'Morte do leiteiro' e Cora em 'A Enxada' - esse que é uma paráfrase do conto de Bernardo Elis. Para um, a tragédia se passa no contexto urbano já o outro no contexto rural. Cada um deles contam a estória de personagens que são mortos por um tiro enquanto trabalhavam. Mas a ação que leva a morte deles são diferentes. Após a morte dos personagens os poetas denunciam o descaso da justiça.
Ainda é possível ver e ouvir essas paráfrases e cantos da vida cotidiana.

Morte do leiteiro (Carlos Drummond de Andrade)

Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morados na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.
Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.
Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.


A Enxada (Cora Coralina)

Piano carece de uma enxada.
Vai ao padre

- Seu padre, m’presta uma enxada.
Tou carecendo demais.
- Tinha. Tem mais não.
Outro levou. Nem sei quem.

- Seu vendeiro, me vende uma enxada.
Fiado. Na colheita lhe pago.
- Tem não. Sei bem como são.

- Minha do porco,
Me prove um enxada
Caco que seja me serve.
- Tem não.
- Aquela acolá,
pinchada, m’impresta.
- Essa não, é do minino bricá.

- Bão dia, patrão.
Vim busca sua semente, planta.
- Leva, preguiçoso, ladrão.
- Preguiçoso, ladrão, num sou não.

Vou planta seus arrôis
Inté amanhã ta tudo plantado.
No rancho não tem decumé.
Somente garapa fria de rapadura.

O bobo regogou,
rugido de fome.
Barriga vazia.

Piano, calado, puxou manso
beira baixeiro.
Enrodilhou.
Sono canino sonhou.
Espeto de carne pingado na brasa.
Farinha bem cheia de monte.
Panela de arrôis gordurando.

Enxada! Tanto de enxada
entrando no rancho!
Enxada encabada, sem cabo.
Libra e meia, duas libra,
duas caras de marca,
tinindo de novas, lumiando,
relanciando, dadas de graça
pra escolhe.

Piano acordou.
Manhã, nem.
Lua no alto parada no céu.
Passarinho dormindo,
o mato dormindo.
O saco nas costas,
Caminho da roça,
patrão muquirana, acredos!

E baixou, bicho no chão
e furou
e plantou,
agachado, arrastando,
Toco de pau. Toco de braço.

Coragem de pobre
seu medo de pobre
furando,
plantando
arrôis do patrão.

Prazo vencido.
Pua de pau furava.
Toco de dedo sangrava,
plantava.
O dia alto,
alto ia o sol,
tinia de quente
Passarinho cantava.
Deus do céu espiava.
Tudo, quasinho acabado.
Roça furada,
plantada.
Um toco de pau,
um toco de braço,
cinco paus de dedos,
feridos na carne.
Restinho de arrôis
no fundo do saco.

Eis chegam dois ferrabrases.
Jagunços mandados, armados,
Patrão mandou vê...

Piano aprazível:
- Nhorsim. Arrôis já plantado.
Coisinha de nada
sobrando no fundo do saco
indoje plantado.

Os dois ferrabrases:
- Patrão mando exempla ocê.
Risca ligeiro, na frente.

Pou
um tiro estrondou.

Passarinho assustou,
não cantou.
Atrás do toco
Piano acabou.

A roça plantada.
Semente de arrôis
tiquinho de nada
sobrado no fundo do saco.

- Alvíssaras, patrão!
Serviço bem feito.
Ninguém viu nada.
Ninguém falou nada.
Sua roça plantada
com toco de pau.
Piano caído de toco na mão.
Alvíssaras, patrão!
Seu bem feito.

Patrão, sossegadão:
- Assim se pune
preguiçoso, ladrão.

No meio da roça.
Piano já frio.
Sangue coalhado no chão.
Formigas em festas fartando.
Restinho de arrôis
no fundo do pano,
passarinho cantando.

Tempos passados...
Na festa da vila.

Fogos queimando,
Estourando,
Bandinha tocando,
Meninos brincando,
Foliando.

Viram quando
Velha aleijada,
amontada na cacunda do bobo
esmolado.
Gritaram, vaiaram:
- Tomove! Tomove!

Da ponta do boteco
alguém reparou:
- A mó qui é gente do Piano...

Pedras jogadas,
risadas.
Crianças correndo,
com medo.
Os abantesmas...
O bobo espantado
com a mãe na cacunda
montada
virou pra trás.
Roeram sua fome,
miséria, aleijume
no fundo do mato.

Os compadres
proseando de manso:
- e a roça de arrôis,
saiu bem?
- Patrão colheu tudo.
Num ficou satisfeito,
mandou ferrabrais
no rancho do desinfeliz
arrecada algum leitão magro,
galinha de pinto que fosse,
ajutorá pagamento resante.
Os home chegaro,
viro miséria:
o mundo,
a veia alejada.
Metero deboche:
se era casado,
marido e muié.
O bobo infezou,
sabe cumo é, bobo infezado.
Garrou porrete,
escorou,
sem midi fraqueza
Os barzabu isso quiria.
Dero piza.
Só num quebraro de tudo
que a veia se arrastando
pidia pru amo de Deus
deixasse o fio,
sua valença.

Em antes,
derrubaram o rancho,
dero fogo.
O tonto,
co’a mãe na cacunda
ganharo o mato
e foro saí na toca
da Grotinha.
Lá se intocaro
co’s mulambo do corpo.

- E cumo véve, cumpadre?
- Deus dá.
Tendo água de bebê
e fogo pra esuentá
isso pobre veve muito.

Aleijado, cego e bobo
é nação de gente vivedô,
duença num entra neles.

Diz que lá em tempos,
tinha inté pexe bagre na cacimba.
Alimparo tudo.
Num tem mais nem inseto.
Passou lá o Militão,
o veio raizeiro,
inté posô.
Deu conceito.
Espiritou o bobo faze tocaia
na grota da noite,
senta porrete,
bicho miúdo com sede,
cutia, preá, cachorrinho do mato,
inté ratão.
Deu certo. Muqueia, sapeca,
num passa fome não.
Insô a faze arapuca
pega passarinho.
Deu.

- Agora, cumpadre,
tão contando visage.
Lá na roça tem vela acendida
na cabeça dos toco,
diz qui o sugragrante
tá fazendo milagre.
Já virou, das veiz,
cavoucando, gemendo.
Diz qui deu carrera
em gente viva.

- E os quinhoado
levam sustento,
algum trapo de cubri?

_ Isso num informo, cumpadre.
Mais o processo qui o Juiz
abriu deu in nada.
E o delegado feiz diligença,
num teve testemunha,
diz que num foi crime.
Morte de acauso,
os home caçava era tatu.
viro um rebolo no chão,
dero tiro de longe,
acertaro no desinfeliz.

Aí, andaro na lei.
Levantaro o cadave,
mandaro intregá
pra famia faze sepurtamento

- E daí, cumpadre?
- Um crente piedoso sidueu.
Levou carroça de noite,
meteu o falecido num saco,
tocou pra vila,
deixou no portão do sumiterio.

- Bamo chegando pra frente, cumpadre.
Musca ta chamando nós.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Retrato de Cora em cartões


No mês de outubro saiu uma tiragem de 218.000 cartões telefônicos com a imagem de Cora Coralina ilustrada pelo artista plástico Wagner Luz, natural de Goiânia.

Entre Pedras


Não há quem não se depare com os poemas de Cora Coralina e se surpreenda como a poetisa ‘canta suas pedras’. Difícil ainda é não lembrar de outras pedras, ou melhor, do ‘poeta da pedra’, Carlos Drummond de Andrade. Coincidência ou não, esses dois poetas souberam retratar bem o valor simbólico de suas pedras.


No meio do caminho


"No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.


Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.


O poema, “No meio do caminho”, publicado em 1928 por Carlos Drummond de Andrade causou escândalo que rendeu a ele censuras e elogios. Por causa desse poema Drummond ficou conhecido como “o poeta da pedra”.
O poeta quebra a mesmice tradicional levando para o plano da experiência cotidiana. Drummond concebe a poesia como uma condição de alma que não necessita de expressão.



Das Pedras


Ajuntei todas as pedras

que vieram sobre mim.

Levantei uma escada muito alta

e no alto subi.

Teci um tapete floreado

e no sonho me perdi.

Uma estrada,

um leito,

uma casa,

um companheiro.

Tudo de pedra.

Entre pedras

cresceu a minha poesia.

Minha vida...

Quebrando pedras

e plantando flores.

Entre pedras que me esmagavam

Levantei a pedra rude

dos meus versos.


O poema metalingüístico da poetisa Cora Coralina intitulado, Das Pedras, retrata o valor simbólico da pedra. As pedras retratam sua própria vida, seus costumes e de seu povo. Cora é espontânea, direta e simples em seus versos. Cora Coralina canta como ninguém suas próprias pedras.

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